quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Menina dos Olhos de Monteiro Lobato



Há algum tempo eu quis escrever sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo. O ano passado foi o centenário de Monteiro Lobato e na época em que adquiri a televisão um dos primeiros programas ao qual assisti foi o Sítio - remodelado, pois narizinhos, emilias e pedrinhos de minha infância cresceram e tia Nastácia e Dona Benta que conheci já estão encantadas. O fato é que a história de Monteiro Lobato é tão mágica que mudam as carinhas, os atores, os cenários, mas a magia continua lá. Intacta. E voltei, por algum tempinho daquela manhã, ao meu deslumbramento de criança com a fantasia. Mais que apenas lembrança. Outro dia, em meio as atividades que a vida adulta nos impõe, dei-me o presente de sair para uma caminhada sem rumo definido e com dois reais na carteira... Eis que Monteiro Lobato e o Sítio atravessam novamente meu caminho. A biblioteca em homenagem ao escritor fica praticamente em minha rua e despretensiosamente cheguei até ela. Nunca havia entrado, apesar de passar diariamente na frente do parque que a abriga. Desta vez entrei, quase que chamada pelo caminho. Não sei porque fiquei tão surpresa ao deparar-me com a exposição em homenagem a boneca Emília, já que estava em sua casa. O encantamento da criança voltou antes de atravessar as colunas vermelhas da entrada? Entregue à magia, usufrui os detalhes e belezas daquela montagem. Com um olhar que não consigo definir. A exposição apresenta desenhos de diversos ilustradores e mostra as diferentes formas e rostos que Emília já teve. Registrei algumas imagens com o celular e em papel improvisado colhi algumas das frases da exposição. Um texto, ao entrar na biblioteca, ressalta como é bonito ver o casamento da imagem com a palavra. Certamente, uma das magias das histórias de Lobato.

"Eu sei o que quer dizer abstrato. É tudo quando a gente não vê, nem cheira, nem ouve, nem prova, nem pega - mas sente que há. " Emília

"Aves marinhas! Vem vindo em nossa direção uma gaivota! Também estou vendo pedaços de paus e ramos de árvores flutuando - sinal de terra próxima. Mas que terra será, meu Deus?" Emília

"Oh não! Sou inimiga do tamanho. Acho que as coisas quanto mais se aperfeiçoam, menores ficam." Emília

"Chega por hoje. Quem quer aprender demais acaba aprendendo nada. Estudo é como comida, tem de ser a conta certa. Nem mais nem menos. Quem come demais tem indigestão." Dona Benta

"Se tudo na vida muda, porque as palavras não haveriam de mudar? Até eu mudo! Quantas vezes não mudei esta carinha que a senhora está vendo?" Emilia

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Biblioteca Monteiro Lobato:
Rua Gal Jardim, 485 São Paulo - SP,
CEP: 01223011 tel. (0xx) 11 3256-4122

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Voltamos!

domingo, 25 de janeiro de 2009

455 anos: Livro sobre São Paulo

Por Raquel Rolnik. Confira abaixo a Introdução:

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Quem dela se aproxima, é impactado por seu tamanho: quilômetros de avenidas, com suas casas e galpões e blocos de edifícios, uma profusão de letreiros e imagens publicitárias. O movimento das pessoas e objetos que circulam 24 horas por dia está presente em tudo, até nas telas dos painéis coloridos que projetam o mundo eletrônico sobre a geografia construída da cidade.

A serra, com seu pico do Jaraguá, é um dos poucos testemunhos contemporâneos de sua geografia original: São Paulo de vales, colinas e várzeas, à beira de um planalto coberto pela Mata Atlântica e pela umidade que vem da Serra do Mar. Em 2054, quando a cidade estiver completando 500 anos, essa paisagem terá sido transformada sucessivas vezes.

Seu ponto mais alto - o espigão da Paulista - foi escolhido pelos barões do café e capitães da indústria nascente da São Paulo no início do século 20 para sua moradia. Meio século depois, sobre ela se instalaram as torres envidraçadas dos anos do milagre econômico, levando o espigão para uma altura ainda mais elevada. Finalmente, a emissão eletrônica de sinais constrói, sobre essas torres altas, antenas iluminadas anunciando uma nova transformação.

Enquanto isso, os rios, como o Tietê e o Pinheiros, que antigamente se espalhavam por largas várzeas, transformaram-se em canais de esgoto espremidos entre vias expressas, onde carros, ônibus, caminhões, carretas e motocicletas disputam o espaço a qualquer hora do dia, noite, madrugada. Em certos pontos de suas margens se vêem, sob anúncios iluminados, barracos de madeira e tijolo com varais de roupas pendurados e anúncios de borracheiros, manicures e "vende-se geladinho"; em outros, esqueletos de construções inacabadas ou falidas, ruínas totalmente cobertas por inscrições em grafias incompreensíveis ao lado de edifícios profusamente pintados e iluminados. Mais adiante conjuntos de torres inteligentes, brilhando em aço e vidro, refletem a paisagem marcada pela crueza desses constrastes.

Com 17 milhões de habitantes, a Região Metropolitana de São Paulo é hoje uma das cidades-mundo do planeta. Isso significa que, ultrapassando seus próprios limites físicos - 900 quilômetros quadrados de área urbanizada, em 39 municípios -, a aglomeração urbana ocupa hoje uma área que vai muito além disso, atingindo pontos distantes do país, do continente, do mundo. Centro de produção, distribuição, gestão e logística de uma rede de empresas que atuam em mercados regionais e internacionais, São Paulo é também um imenso mercado, alimentado pela quantidade de pessoas que concentra: moradores, visitantes e "circulantes".

O tamanho dessa cidade e a vastidão dos territórios por ela atingidos demarcam a heterogeneidade dos circuitos e redes habitados por diversas tribos: cidade de mil povos, capital financeira, cidade conectada no mundo virtual e real das trocas, potência econômica do país, berço de movimentos sociais e lideranças políticas. No entanto, é uma cidade partida, cravada por muros visíveis e invisíveis que a esgarçam em guetos e fortalezas, sitiando-a e transformando seus espaços públicos em praças de guerra.

Entrar na cidade é estar permanentemente exposto à sua imagem contraditória de grandeza, opulência e miséria, carroça e caminhonete blindada, mansão e buraco, shopping center e barraca de camelô. Cidade fragmentada, que aparenta não ser fruto da ordem, mas sim filha do caos, da competição mais selvagem e desgovernada de projetos individuais de ascensão ou sobrevivência, do sonho de gerações sucessivas de imigrantes que vieram em busca das oportunidades distantes e da potência da grande cidade.

Em São Paulo hoje, o futuro da megacidade parece incerto: sobreviverá ao congestionamento e à poluição? Reaparecerão os empregos industriais perdidos? Voltará a reinar a paz nas ruas?
Para tentar responder a essas questões, é preciso entender como se chegou a esse ponto, reconhecendo que a cidade hoje é produto de milhões de ações individuais e coletivas das gerações que nela investiram seus projetos. Longe de ser caótico, esse processo foi diretamente influenciado por opções de política urbana, tomadas em períodos fundamentais de sua história.

É sobre esses momentos e essas decisões que vamos nos debruçar nas próximas páginas, mostrando que o que parece ser uma nau desgovernada corresponde na verdade aos sucessivos modelos de cidade e de gestão urbana construídos para administrar um lugar que em cem anos (entre 1854 e 1954, data de seu quarto centenário) passou de 30 mil para mais de 2,5 milhões de habitantes, chegando a 10 milhões nas décadas seguintes e transformando-se na principal cidade de um país marcado pela extrema concentração de renda.

O livro se organiza em ordem cronológica, iluminando em cada capítulo momentos decisivos da história da cidade, que definiram configurações presentes até os nossos dias. O percurso que vai desde a implantação da vila em seu sítio original até a construção da cidade cosmopolita, impulsionada pela máquina da cafeicultura e do Partido Republicano Paulista, será o objeto do primeiro capítulo. O segundo reconstrói a lógica política - e urbanística - da administração metropolitana, abordando o momento em que a cidade se solta dos trilhos, espalhando-se em periferias precárias. O capítulo seguinte focaliza a construção da metrópole, com suas novas pautas de escala e sua recomposição étnica e cultural. A série cronológica se completa com o quarto capítulo, que aborda os dilemas da São Paulo contemporânea. Finalmente, o capítulo 5 é um breve exercício de futurologia, apresentando como as teorias sobre a cidade contemporânea desenham cenários para a São Paulo do novo milênio.

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"Folha Explica São Paulo"
Autora: Raquel Rolnik
Editora: Publifolha
Páginas: 88
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

Fonte: Folha Online

455 anos: Retratos da Cidade

O muralista Eduardo Kobra reproduz uma cena paulistana da
década de 1920 em 1.000 m2 de um muro da av. 23 de Maio


Como em todo aniversário, a cidade de São Paulo recebe presentes de seus moradores para celebrar sua diversidade. Ao completar 455 anos, o mundo das artes paulistano a presenteia com exposições temáticas, que retratam a metrópole multicultural.Veja a relação de algumas que entram em cartaz a partir deste fim de semana em comemoração ao tema.
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São Paulo à lápis

Marcelo Senna mostra 15 desenhos de pontos históricos e situações peculiares da cidade. Seus desenhos retratam novos ângulos de pontos históricos e situações cotidianas da cidade de São Paulo. A inauguração aconteceu neste sábado (24). A visitação gratuita pode ser realizada até 8 de março.

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Vincenzo Scarpellini

Com curadoria de Jorge Coli, "Quaderni di Viaggio" exibe 90 desenhos realizados pelo italiano em suas andanças pelo mundo. O designer gráfico viveu por dez anos em São Paulo antes de morrer em 2006.

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Um Cartaz para São Paulo

Paulo Moretto e Alécio Rossi convidaram artistas, arquitetos e designers gráficos para representar a cidade em cartazes, sob o tema "(In)sustentabilidade Urbana". Durante o evento gratuito, o público poderá conferir 20 cartazes que retratam as mudanças de identidade visual, cultural e ambiental da capital paulista nestes 455 anos. O conteúdo da mostra foi produzido por 23 artistas e profissionais renomados da área de design

Informe-se sobre o evento
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Eduardo Kobra

Para comemorar os 455 anos da cidade, o muralista reproduz uma cena paulistana da década de 1920 em 1.000 m2 de um muro da av. 23 de Maio. A obra, que traz uma cena paulistana na década de 20, tem cerca de mil metros quadrados e está sendo produzida pelo grafiteiro paulistano Eduardo Kobra, com a colaboração de mais quatro artistas.

Av. 23 de Maio, s/ nº (sob o viaduto Tutóia), Paraíso, região sul, São Paulo, SP, tel.: 0/xx/11/3751-0930. Seg. a dom.: 24h. Abertura 25/1. Evento permanente. Grátis. Classificação etária: livre.

Fonte: Folha Online
Foto: Divulgação

455 anos: Grafite X Pixação

Grafite X Pixação - arte e protesto formam o cenário da metrópole que completa hoje 455 anos. Aqui, dois registros sobre essas manifestações urbanas.