sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

São Paulo dorme às terças-feiras

...mas a poesia sempre vive.


Plena terça-feira, 26 de fevereiro, na companhia das melhores amigas e rodando a cidade até 2h da madrugada em busca de alguma diversão. Ao que os olhos viam, nada parecia empolgante o suficiente para uma parada e 20 reais a entrada, que é o valor médio das baladas paulistanas. E Roberta insistia: “Às terças-feiras nada acontece nesta cidade.” Mesmo com certa desconfiança desse prognóstico assustador da metrópole, voltamos para nossas casinhas resignadas. Mas nem tudo foi marasmo naquela noite.

Começou no Espaço dos Parlapatões, na Praça Roosevelt, que promoveu um II Concurso de Poesia Falada. E eu fui lá, ler um dos meus poemas. Sim, me aventuro pela literatura às vezes. Não ganhei o prêmio, mas valeu a confraternização com o meio teatral. Entre críticas sociais e sátiras amorosas, muita coisa boa apareceu naquele palco do bar dos Parlapatões. Um sarau descontraído e agradável. Para quem gosta das rimas e afins, vale a pena conferir. E fiquem de olho, pois eles já divulgaram que farão mais um concurso em breve!


Espaço Parlapatões
Praça Franklin Roosevelt, 158
Centro Informações: 3258 4449

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O melhor do pior

Oito e meia da manhã. O trânsito completamente congestionado antecipa o atraso no trabalho. Uma chuva fina corta o vidro do carro em um dia que terminará em uma tórrida tarde de sol. Este é um dos cenários mais marcantes para quem vive em São Paulo. Enfrentar congestionamentos, começar o dia com chuva e terminar torrando no sol. Ou vice-versa. Mas, sempre acompanhado do trânsito lento.



Nesses momentos é preciso uma calma transcendental para não protagonizar um dia de fúria. E é quando a criatividade entra em cena. Vale tudo para não estressar no congestionamento da cidade. Ler um livro, escutar muita música, ou até fazer tricô (sim, já ouvi gente contar que faz tricô no trânsito). E aí está mais uma das contradições desta metrópole louca. Enquanto São Paulo te impõe um ritmo acelerado, tanto de informações, quanto de atividades, te faz andar lento, muito lento, por suas vias de tráfego parado.

O filme A Via Láctea, de Lina Chamie, que esteve em cartaz por aqui em novembro do ano passado, tem como argumento justamente os intermináveis congestionamentos de São Paulo. Este corpo-a-corpo com a cidade foi levado à tela dividindo a cena com o protagonista do filme e suas lembranças de um relacionamento amoroso.

O paulistano, tão acostumado a não parar, se vê obrigado a isso. E o pensamento, nessas horas, é a única companhia. Mesmo rodeado de gente: Sozinho. Foi em uma dessas cenas que a personagem que aqui escreve se viu envolta em seus pensamentos enquanto a fila de carros mal andava. As oito e meia da manhã de uma infernal segunda-feira com uma chuva fina cortando o vidro do carro.

Eis que, nessas horas, tirar o melhor do pior é imperativo e dependendo do humor, isso acontece. O filme que passava em meu pensamento era justamente este projeto – o Welcome To The Jungle. Esta idéia surgiu em uma conversa entre duas amigas no balcão de uma casa noturna badalada de SP. Em menos de uma semana, já tínhamos o espaço para publicação – este blog – duas entrevistas de peso e muito mais idéias na cabeça para colocar em prática com a pressa que São Paulo impõe.

O que ganhou um ritmo frenético foi o nosso pensamento e em duas semanas de existência, o blog já tem projeto de site, com um layout e tudo o mais, pronto para estreiar. Mas, na prática, nada acontece tão rápido. Nem mesmo em São Paulo. A começar por seu trânsito. E foi nele que surgiu uma reformulação para a linguagem deste futuro site. Antecipo que mais que matérias e prestação de serviço sobre a cidade e seus personagens infindáveis, quem passar por aqui encontrará um olhar.

O olhar de quatro mulheres. Cada uma, a partir de sua história e vivências, terá este espaço para relatar as delícias e as dores de morar em uma cidade como São Paulo. Sugestões de lugares bacanas, bons filmes e peças - e também o pior da metrópole – estão no roteiro. Mas o relato será muito mais próximo do particular – indo na contramão da impessoalidade da gigante de concreto.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Bairros de SP e seus nomes: dos santos aos índios

Os primeiros bairros de São Paulo, sítios e chácaras surgiram no começo do século XX. Antes, os pesquisadores os chamavam de núcleos urbanos. Os bairros mais antigos como Brás, Pacaembu, Perdizes, Bela Vista e Pinheiros ficavam próximos ao centro de hoje. A população da cidade começou a aumentar a partir do século XVIII. Com a volta dos sertanistas, que tinham ido a Minas Gerais à procura de pedras preciosas, os núcleos urbanos também aumentaram, surgindo assim os primeiros bairros.

O engenheiro Rufino José Felizardo e Costa foi quem pesquisou, em 1810, os nomes dos primeiros núcleos urbanos da cidade, surgidos entre 1600 e 1800. "A população de São Paulo se aglomerava em torno de igrejas e conventos, pois os padres costumavam ajudar as pessoas. O resultado disso é que São Paulo tem hoje cerca de 2 mil bairros com nomes de santos", explica a professora da USP, Maria Vicentina do Amaral, especializada em linguagem e autora do livro "A Dinâmica dos nomes dos bairros na Cidade de São Paulo 1554-1897".

O bairro de Santa Cecília é um dos que mais se encaixam nessa explicação, pois ele era apenas um apêndice do bairro das Perdizes. Mas a população cresceu tanto em torno da igreja que o lugar se tornou um dos maiores bairros da cidade. Lendas e a forte formação católica herdada dos portugueses também são responsáveis pelo batismo de muitos bairros. A Penha, na zona leste, deve este nome a uma lenda sobre um viajante francês que carregava consigo, amarrada em seu cavalo, uma imagem da Nossa Senhora da Penha. Quando ele passou por onde hoje é o bairro, a imagem se desprendeu e caiu. Toda vez que ele a recolocava no lugar, ela caia. Então o viajante a deixou, acreditando que a santa não queria sair de lá. A imagem foi encontrada por outras pessoas e daí surgiu o bairro da Penha.

Santana, zona norte, também recebeu esse nome em homenagem a Santa Ana e quem o batizou foram os jesuítas, assim como o bairro de São Miguel, que era um dos santos preferidos do Padre Anchieta. A origem da Lapa, zona oeste, é bem parecida com a da Luz. Um português construiu uma gruta para a santa e a comunidade se desenvolveu em volta. O advogado e pastor da Igreja Batista da Lapa, José Siqueira Dutra, um dos moradores mais antigos do bairro, acha curioso que alguém tão religioso como ele não conhecesse ainda a origem do nome da Lapa. "Fui uma das pessoas mais atuantes do bairro. Houve uma época que cheguei a conhecer todos os mendigos que moravam aqui, e mesmo sendo um pastor não sabia dessa história", admite.

Assim como o pastor José Siqueira Dutra e outros moradores da Lapa, a maioria das pessoas não sabe a origem do nome do bairro onde mora. Mas para aqueles que moram em lugares que têm nomes de países ou bairros famosos fica mais fácil entender o porquê. É o caso de bairros como Brooklin, em homenagem ao bairro de Nova York; Indianópolis, que deveria ser como a cidade norte-americana de Indianapolis; Campos Elíseos, em homenagem à famosa avenida parisiense Champs Elysées; Pompéia, cidade italiana destruída pelo vulcão Vezúvel; Jardim Califórnia, Jardim Flórida, Jardim Los Angeles, Vila Nova Manchester, todos estados norte-americanos; Vila Portugal e Jardim França, lembrando países da Europa e Jardim Riviera em homenagem à orla francesa.

Nomes indígenas são os mais incompreendidos de todos. Pacaembu, por exemplo, quer dizer arroio das pacas. Butantã, ao contrário do que muitos podem imaginar, não tem nada a ver com cobras, quer dizer terra dura em tupi-guarani. Jabaquara é morada dos índios e Pirituba se refere às plantações de junco que havia ali.

Para alguns moradores, o significado dos nomes dos bairros em que vivem perderam a coerência com o tempo. "Nasci em Pinheiros e apenas na minha infância vi algumas árvores", conta o alfaiate José da Glória. "Na minha opinião o bairro deveria se chamar paineira, pois ela sim tinha de monte, apesar de não restar mais nenhuma", conclui.

Higienópolis, por exemplo, foi projetado pelos comerciantes alemães Martino Burchad e Victor Nothmann para ser um bairro limpo e arborizado. Assim como os alemães queriam construir o bairro perfeito, por volta de 1915 urbanistas ingleses compraram loteamentos para construírem casas com jardins na frente, separando-as da calçada. Daí vieram os nomes Jardim Europa, Jardim Paulistano e Jardim América, este em homenagem a uma das esposas dos ingleses.
Bairros como Liberdade (da comunidade japonesa), Saúde (pelo clima bom) e Perdizes (por causa das aves) são mais fáceis de entender. Mas além de nomes óbvios, alguns bairros ganharam apelidos. A Freguesia do Ó nasceu de Nossa Senhora do Ó. Os portugueses costumavam rezar na véspera do Natal uma oração e no meio havia uma ladainha que dizia "Ó Nossa senhora, protegei-nos", e como essa parte era muito repetida, no século XVII o bairro acabou batizado de Nossa Senhora do Ó. "Quem morava na Nossa Senhora do Ó costumava ir comprar limões no sítio de um italiano, onde depois surgiu o bairro do Limão", conta a aposentada Gisela Helena Zaremba. "Como iam sempre, o italiano dizia: 'lá vem a freguesia do Ó', e o apelido acabou pegando".

O nome de batismo da Bela Vista veio da bela paisagem que se descortinava para quem via o bairro de onde é hoje a Praça da Bandeira. Já o apelido de Bexiga tem duas explicações: a primeira é que um português chamado Antônio Bexiga vendia lingüiças pelo bairro. A segunda é sobre um alojamento para doentes de varíola, que eram chamados de "bexiguentos".
O que se pode observar é que, ao contrário dos bairros atuais da capital paulista, que em sua maioria não possuem histórias para seus nomes, os bairros antigos têm sempre um significado para suas designações. Isso permite que se preserve mais facilmente a história de suas origens, o que, de certa forma, cria uma identidade especial entre seus moradores.


(Texto: Tatiana Kinoshita / Foto: Igreja Nossa Senhora da Consolação, Centro. Por Roberta Aflalo)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Conexão Rio-São Paulo dá samba

Gabriel Moura, João Suplicy e Alexandre Grooves com banda

Se Gabriel Moura e Alexandre Grooves se encontrassem na pressa que impera nas ruas da Paulicéia, talvez apenas se esbarrassem, sem saber que em comum têm experiências musicais riquíssimas. Para a nossa sorte, o encontro entre eles aconteceu nos palcos e o talento dos dois pode ser conferido todas as quartas-feiras no bar paulistano Na Mata Café, tradicional por revelar nomes de peso da nova MPB. Gabriel e Grooves recebem também convidados, como João Suplicy e o rapper Edu Negão, que estiveram por lá na última quarta (30/01). Encontros como esse garantem às noites das quartas paulistanas deliciosas Jam Sessions do melhor e mais atual da música brasileira.

Carioca, de família formada por músicos, Gabriel Moura tem como principal influência em seu trabalho o samba. O menino de Lins de Vasconcelos cresceu ouvindo os repiques das baterias praticamente no quintal de casa. “Eu estava no meio do samba feito na rua, do samba de raiz. Tinham duas escolas de samba próximas de onde eu morava no Rio. A Unidos do Cabuçu e a Lins Imperial”, conta. Por volta de 1990, Gabriel conheceu o ainda Jorge Mário, que viria se tornar mais tarde o Seu Jorge e com quem ainda tem uma grande amizade, fortalecida pelo Farofa Carioca, banda lançada pelos dois na década de 90.

Após dois anos dividindo os palcos, os músicos partiram para carreira solo e Gabriel voltou-se para o teatro, que já marcava sua trajetória antes mesmo do Farofa. A experiência com a dramaturgia é um pano de fundo na criação musical de Gabriel. Nele, imagens se criam como se uma história se formasse na mente de quem escuta suas músicas. Com essa influência e o toque de seu tio, o maestro Paulo Moura, Gabriel lança seu primeiro trabalho solo em 2006: "Brasis". Além do samba, o músico circula por diversos estilos brasileiros, como a gafieira da faixa “Mini-Saia” e o baião em “Tem Fila”. “Eu queria um trabalho bem brasileiro, partindo do samba de raiz”, explica.

O paulistano Alexandre Grooves também está em plena atividade com seu CD: “Amanhã Não Vou Trabalhar”, que traz participações de Maurício Manieri e Seu Jorge. Grooves integrou por sete anos a banda Grooveria. Em 2006, a vontade de vôos independentes fez ele partir para carreira solo. Com influência marcada da MPB, Grooves faz uma mescla entre o que há de mais tradicional da Música Brasileira com as novas tendências e destaca Gabriel Moura como uma das referências para seu trabalho. Nada melhor que vê-los juntos no palco. Mesmo para quem vai trabalhar no dia seguinte, conferir os diversos Brasis no Na Mata todas as quartas-feiras é imperdível. Dá samba. E dos bons.





(Texto e Fotos: Clarissa Olivares)